NewsConstruir um futuro circular!

Construir um futuro circular!


O mês de junho, que terminou, é conhecido em Portugal pelas festas que celebram os três Santos Populares, sendo os mais famosos o Santo António em Lisboa e o São João no Porto, mas muitos outros podem ser encontrados por todo o país. Um dos símbolos desta época alegre é a sardinha, grelhada em todos os cantos dos bairros antigos, sendo um peixe essencial na tradição portuguesa, nomeadamente na indústria de conservas de peixe. O bacalhau é, naturalmente, também paradigmático da cozinha portuguesa, mas são consumidas muitas espécies de peixe diferentes, fazendo de Portugal um dos principais consumidores de peixe per capita do mundo. Estaremos a fazê-lo de uma forma sustentável? Esta pergunta dirige a nossa atenção para as quotas de pesca e para a aquacultura – e temos especialistas e políticas que o abordam – mas precisamos de ir mais fundo e perguntar: estamos a explorar de forma sustentável este capital natural, considerando o melhor conhecimento disponível?

Se recuarmos aos tempos descritos no romance Moby Dick e no filme No Coração do Mar, ou visitarmos os museus marítimos de Ílhavo ou dos Açores sobre o tema, facilmente percebemos que a caça à baleia visava muito mais do que obter alimento e que todas as partes do animal eram úteis! (Eu sei: a baleia não é um peixe, mas isto ajuda-me a perceber).

Voltemos à questão. Estima-se que cerca de 50% a 75% de todo o peixe capturado não será destinado ao consumo humano, desde as capturas acessórias e as devoluções até aos resíduos gerados durante a transformação do peixe (nomeadamente na produção de filetes)! Não nos podemos dar a esse luxo e devemos às próximas gerações uma utilização mais sensata dos recursos naturais. Na verdade, devemos a nós próprios, pois este é um desafio atual. Algumas coisas estão a evoluir: o que antes era considerado como resíduos de peixe é agora visto como subprodutos de peixe, sendo esta biomassa explorada para alimentação animal, mas muitas outras aplicações estão a ser demonstradas pela Ciência. O Grupo de Investigação 3B da Universidade do Minho tem vindo a coordenar vários projetos colaborativos nesta valorização dos recursos biológicos marinhos e subprodutos derivados, ajudando a construir este conhecimento em colaboração com vários parceiros de Portugal, Espanha, França, Irlanda, Reino Unido, Noruega, Islândia…

Os subprodutos estão a ser transformados em co-produtos (ou seja, não são fluxos secundários, mas componentes igualmente valiosos, matérias-primas em processos posteriores) e podem ser obtidos compostos e materiais valiosos a partir de espinhas de peixe, escamas, peles, vísceras, etc. O tratamento inicial dos vários fluxos exigiria um cuidado especial e a conceção de novos processos industriais, mas o valor acrescentado da aplicação dos produtos naturais marinhos nos sectores da saúde, da cosmética, da alimentação e da química fina, entre outros, compensará largamente esse esforço. Os benefícios são claros, apoiados em investigação bem estabelecida, mas precisamos de preparar o caminho. Os conceitos de Economia Circular e Biorrefinaria estão a iluminá-lo e é nossa escolha seguir em frente. Juntem-se a mim, ao B2E CoLAB, a muitos outros neste esforço e vamos construir o futuro!

Tiago Henriques da Silva

Investigador Principal do Grupo de Investigação 3B’s, Universidade do Minho

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