NewsBiotecnologia Marinha – Cinco fármacos de origem marinha com elevada importância para a Indústria Farmacêutica

Biotecnologia Marinha – Cinco fármacos de origem marinha com elevada importância para a Indústria Farmacêutica

Sabia que menos de 5% do fundo do mar foi explorado de forma detalhada devido à pouca acessibilidade?

Os oceanos e mares ocupam grande parte da superfície da Terra (cerca de 70%) representando o maior recurso do planeta, com uma biodiversidade imensa e pouco explorada. Na verdade, menos de 5% do fundo do mar foi explorado de forma detalhada devido à pouca acessibilidade1,2,3. As interações entre os organismos marinhos originaram uma multiplicidade de compostos bioativos únicos e diferentes dos encontrados em ambiente terrestre, desenvolvidos essencialmente no decorrer das relações dentro do ecossistema, quer bióticas, quer abióticas, e na “rotina” dos seres vivos, em predação, simbiose, acasalamento, entre outras1,2,4,5.

Estes compostos caracterizam-se por serem estruturalmente distintos e altamente seletivos no que concerne aos seus alvos moleculares. É exatamente esta seletividade e multiplicidade de marcadores celulares que os tornam interessantes e com enorme potencial de utilização para a indústria farmacêutica3.

Qual o composto de origem marinha mais antigo de que há registo? O corante púrpura-tíria, utilizado para tingir tecidos.

Historicamente, o composto de origem marinha mais antigo de que há registo data de cerca de 1600 a.C. – corante púrpura-tíria – extraído de moluscos marinhos pelos fenícios, e utilizado para tingir tecidos utilizados pelas classes de maior estatuto e poder económico devido ao seu elevado valor de mercado3. Desde esta altura, o interesse do Homem na exploração destes recursos concentrava-se nos seres vivos visíveis a olho nu e de acesso relativamente fácil: peixes e algas marinhas.

Apenas na segunda metade do século XX, devido à evolução tecnológica e científica, nomeadamente nas técnicas de isolamento e caracterização química, foi possível diminuir obstáculos e iniciar uma exploração mais séria e frutífera dos recursos marinhos e a identificação de compostos marinhos de interesse farmacológico. Neste período, houve também uma maior sofisticação, regulamentação e evolução nos ensaios realizados em pessoas, de modo a perceber, com maior grau de cuidado e rigor, as aplicações e implicações da utilização destes compostos em humanos.

Dados do início do século XXI relativos aos compostos de origem marinha indicam que cerca de metade são extraídos de microrganismos marinhos, o que revela um interesse crescente por este tipo de organismo. Os microrganismos apresentam uma grande diversidade química, com seletividade elevada e diversidade de alvos moleculares, o que potencia a sua eficiência.

Descubra cinco compostos importantes com origem no oceano e com aplicações em fármacos

De seguida, apresentaremos uma seleção de compostos de origem marinha com aplicações distintas a nível farmacológico:

1 – Trabectedina (nome comercial: Yondelis®) – fármaco utilizado no tratamento do cancro do ovário e também no cancro sarcoma de tecidos moles, sendo utilizado quando a utilização de outros fármacos não é efetiva. É extraído da ascídia caribenha Ecteinascidia turbinata.

2 – Ziconotide (nome comercial: Prialt®) – fármaco analgésico neuropático não narcótico utilizado no tratamento da dor crónica grave, quando os doentes não respondem à toma de outros medicamentos. É isolado do molusco Conus magnus.

3 – Citosina arabinosídeo (nome comercial: Citarabina®) – fármaco utilizado no tratamento de alguns tipos de leucemia, extraído de esponjas do mar caribenhas Tectitethya crypta.

4 – Adenina arabinosídeo (nome comercial: Vidarabina®) – fármaco antiviral, utilizado em infeções provocadas pelo vírus do herpes simples dos tipos 1 e 2, extraída da bactéria Streptomyces antibioticus.

5 – Didemnina B – fármaco atualmente em ensaios clínicos que se pretende usar no tratamento de cancro, tendo também demonstrado ter potencial antiviral e imunossupressor. É extraída do molusco Conus magnus.

Como estes compostos, existem inúmeros já identificados, extraídos e purificados que a comunidade científica acredita terem potencial imenso no campo da farmacologia, e que poderão ser sujeitos a ensaios clínicos de modo a aferir a sua segurança e eficácia.
No entanto, estes compostos advêm apenas de uma pequeníssima percentagem de seres vivos marinhos, levando a comunidade científica a extrapolar o sem número de compostos que ainda poderão vir a ser identificados, com potencial de utilização em campo como a nutracêutica, a farmacogenética, a cosmética, entre outros.

O mar e os seres vivos marinhos demonstram, mais uma vez, a sua importância na saúde e qualidade de vida dos humanos, sendo importante a sua exploração e preservação.

Referências:

1. Costa-lotufo LV, Wilke DV, Jimenez PC, Epifanio RDA. Marine organisms as a source of new pharmaceuticals: History and perspectives. Quim Nova. 2009;32(3):703–16.

2. Newman DJ, Cragg GM. Drugs and Drug Candidates from Marine Sources: An Assessment of the Current “state of Play.” Planta Med. 2016;82(9–10):775–89.

3. Lindequist U. Marine-derived pharmaceuticals – challenges and opportunities. Biomol Ther. 2016;24(6):561–71.

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