NewsBiorrefinarias marinhas: uma solução de próxima geração para a bioeconomia azul circular?

Biorrefinarias marinhas: uma solução de próxima geração para a bioeconomia azul circular?

De acordo com as Nações Unidas, prevê-se que o consumo global de recursos naturais aumente 60% até 2060 em comparação com os níveis de 2020. Este consumo exercerá uma pressão sem precedentes sobre o ambiente, agravando as alterações climáticas, a poluição e a perda de biodiversidade, especialmente se forem utilizados métodos de extração tradicionais. Assim, o desenvolvimento de soluções inovadoras de próxima geração e a exploração sustentável de recursos naturais renováveis tornaram-se mais importantes do que nunca. O conceito de biorrefinarias está a emergir como uma resposta promissora a este desafio global.

O que é uma Biorrefinaria? É uma instalação integrada que utiliza tecnologia de processamento sustentável, em cascata, para converter biomassa, inteira ou fracionada, em múltiplos bioprodutos comercializáveis e em bioenergia. O objetivo é otimizar a utilização dos recursos e minimizar os resíduos, com o fluxo de produtos em cascata a começar nos produtos de maior valor e a terminar na produção de biocombustíveis e opções energéticas que destroem a biomassa.

No conceito de Biorrefinaria, a biomassa marinha continua a ser subutilizada. Várias biomassas podem ser usadas nas Biorrefinarias Marinhas, nomeadamente, algas (macro ou micro), capturas acessórias da pesca ou coprodutos da transformação de pescado (p. ex., cabeças, caudas ou pele).

São vários os produtos que podem resultar de uma Biorefinaria Marinha. As algas, por exemplo, são ideais para obter biocombustíveis, lípidos (p. ex., ómega-3), pigmentos (p. ex., carotenóides), proteínas ou bioplásticos (p. ex., ácido poliláctico). Enquanto a biomassa de pescado pode ser transformada em biocombustíveis, proteínas (p.ex., colagénio), enzimas (p.ex., proteases), óleos de peixe (p.ex., esqualeno), polissacáridos (p. ex., quitina) ou compostos de base mineral (p.ex., hidroxiapatite).

Mas, apesar do seu potencial, as Biorrefinarias Marinhas ainda estão a dar os primeiros passos, estando a maioria apenas na fase conceptual. Os principais desafios são os elevados custos de produção, os problemas de escalabilidade e a complexidade do processamento da biomassa marinha.

Como é que as tecnologias emergentes podem desbloquear todo o potencial das Biorrefinarias Marinhas? A inteligência artificial, os Digital Twins e a Machine learning, podem ser ferramentas importantes para otimizar as operações de bioprocessamento, prever resultados e melhorar os rendimentos. A robótica e a automatização, podem simplificar a colheita e o processamento da biomassa marinha. As tecnologias avançadas de bioprocessamento, como a fermentação, os processos enzimáticos ou a nanotecnologia podem melhorar a eficiência da conversão da biomassa e a extração de bioprodutos de elevado valor. Por último, os avanços na biologia sintética podem permitir a engenharia genética de organismos marinhos para aplicações específicas. A integração de algumas destas tecnologias no conceito de biorrefinaria é ainda limitada. Mas, à medida que forem evoluindo, terão certamente um papel crucial no desenvolvimento de Biorrefinarias Marinhas eficientes, escalonáveis e sustentáveis, contribuindo para um futuro mais verde e resiliente.

No B2E CoLAB, estamos fortemente comprometidos em impulsionar os princípios da bioeconomia azul circular. Exemplo disso é projeto FishMatter que lideramos, no âmbito do Pacto para a Bioeconomia Azul (financiado pelo PRR), que visa desenvolver uma plataforma inteligente de valorização de coprodutos marinhos. Acreditamos que esta plataforma será um contributo importante para o conhecimento no domínio da biomassa marinha e um facilitador da conceptualização de Biorrefinarias Marinhas, que abrirão caminho para o desenvolvimento holístico de uma bioeconomia azul circular em Portugal.

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