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Os Serviços de Ecossistema da Aquacultura

Um “ecossistema” é uma combinação complexa e dinâmica de plantas, animais, microrganismos e ambiente natural, que vivem em conjunto como uma unidade e que dependem uns dos outros. “Biodiversidade” engloba todas as inúmeras formas de vida resultantes destas parcerias.

Os ecossistemas da Terra oferecem à humanidade uma vasta gama de benefícios conhecidos como “bens e serviços ecossistémicos”. Os bens produzidos pelos ecossistemas incluem alimentos (carne, peixe, legumes, etc.), água, combustíveis e madeira; enquanto os serviços incluem o fornecimento de água e a purificação do ar, a reciclagem natural de resíduos, a formação do solo, a polinização e os mecanismos de regulação que a natureza, por si mesma, utiliza para controlar as condições climatéricas e as populações de animais, insetos e outros organismos1.

A destruição dos ecossistemas resultantes de atividades industriais e antropogénicas, que levaram às alterações climáticas, tem repercussões na vida e saúde humanas. Muito embora a aquacultura se possa inserir no lado da destruição ecossistémica devido aos impactos ambientais consequentes de uma má gestão, ela também pode repovoar o oceano com espécies que se encontram em vias de extinção, como é o caso do cavalo-marinho na Ria Formosa.

Aliás, se a aquacultura for feita de forma correta e bem gerida, em especial a maricultura – a produção de espécies marinhas em ambientes oceânicos e costeiros –, pode ajudar a mitigar os impactos da própria produção e trazer benefícios aos ecossistemas envolventes à área de produção, bem como ter o potencial de ajudar a combater as alterações climáticas2.

De facto, a produção de bivalves como ostras, amêijoas e mexilhões tem um papel importante nos recursos hídricos: limpam a água à medida que filtram a alimentação e removem o azoto do meio, a zona de produção serve de habitat para organismos mais pequenos, e podem mesmo ajudar a prevenir a erosão da linha costeira. Ou seja, ajudam a preservar ecossistemas, salvaguardam a biodiversidade e invertem a degradação do solo.

Juntamente com os bivalves, a produção de macroalgas também ajuda a purificar a água. Assim ao serem colocadas juntamente com aquacultura de peixe, capturam o excesso de nutrientes, previnem a acidificação oceânica e a perda de habitat, e ao mesmo tempo criam zonas de abrigo, maternidades e habitats para muitos peixes, aumentando a quantidade de peixes existentes na área e melhorando o ambiente circundante3.

O que estudos científicos demonstram

Um estudo publicado na Bioscience4, avaliou como as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) associadas à maricultura de peixes, macroalgas e bivalves poderiam ser mitigadas, explorando as fontes de GEE como carbon sinks. O estudo conclui que se a aquacultura for “feita de forma correta” poderá ter um papel ativo na mitigação das alterações climáticas. Além disso aponta a aquacultura como potencial líder global em sistemas alimentares regenerativos. Para tal, será necessário esforço e investimento, de forma que num futuro se possam obter emissões zero nesta indústria.

Outro estudo, “Exploring the potential for marine aquaculture to contribute to ecosystem services”, explora o potencial da aquacultura de contribuir positivamente para o planeta e para os ecossistemas e acrescenta que a incorporação do reconhecimento dos serviços ecossistémicos, na conceção e planeamento das explorações, tem o potencial de melhorar o desempenho ambiental e a gestão sustentável da aquacultura5.

O Painel de Alto Nível da ONU para uma Economia Oceânica Sustentável aponta boas soluções para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa através da produção de mais alimentos no oceano e aumento da nossa alimentação com proteína proveniente da maricultura, concluindo que uma maior ingestão de peixe marinho e marisco contribuiria até 25 por cento para as reduções de gases com efeito de estufa dos oceanos até 2030.

Em conclusão

A aquacultura pode assim ajudar a contribuir positivamente para o planeta, providenciando proteína de qualidade, ajudando a responder ao desafio global de alimentar mais de nove mil milhões de pessoas até 2050, ao mesmo tempo mitigar os problemas crescentes das alterações climáticas.

Referências:

1. Bens e Serviços Ecossistémicos, 2009, Comissão Europeia

2. Lisa Jackson, 2022 “Climate change mitigation needs mariculture, new research concludes”, Global Seafood Alliance.

3. NOA, National Oceanic And Atmospheric Administration, US Department of Commerce

4. Alice R Jones, Heidi K Alleway, Dominic McAfee, Patrick Reis-Santos, Seth J Theuerkauf, Robert C Jones, Climate-Friendly Seafood: The Potential for Emissions Reduction and Carbon Capture in Marine Aquaculture, BioScience, Volume 72, Issue 2, February 2022, Pages 123–143, https://doi.org/10.1093/biosci/biab126

5. Gentry, R.R., Alleway, H.K., Bishop, M.J., Gillies, C.L., Waters, T. and Jones, R. (2020), Exploring the potential for marine aquaculture to contribute to ecosystem services. Rev Aquacult, 12: 499-512. https://doi.org/10.1111/raq.12328

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