Como fazer da Bioeconomia Azul o primo cool da sustentabilidade
Vamos ser sinceros: comunicar a bioeconomia azul não é exatamente o equivalente a vender um par de sapatos de designer ou um carro elétrico topo de gama. Não é o que chamaríamos de “sexy” à primeira vista.
Ao contrário de outros setores que se vendem quase por si próprios, a bioeconomia azul não goza do mesmo brilho que, digamos, as marcas de moda sustentável, que praticamente prometem salvar o planeta com cada camisola feita de garrafas de plástico recicladas. Esses setores já têm a sua narrativa bem delineada, quase de uma forma sedutora, e o consumidor sente-se um herói apenas por carregar no botão “comprar”. Agora, experimentem dizer a alguém que a aquacultura pode ser a chave para o futuro do consumo sustentável… e preparem-se para o olhar no vazio, cheio de dúvidas.
O problema não está nos produtos, que são inovadores e necessários. O desafio é comunicar eficazmente essas inovações. Não basta ter o produto mais sustentável se ninguém souber que ele existe ou não se importar. Estamos a falar de inovações fantásticas, processos revolucionários, e de uma urgência climática que todos reconhecemos.
Se há coisa que o Blue Wink-E 2024, com o tema “Escolher Azul, Viver Verde”, pretende fazer, é colocar a bioeconomia azul no radar do consumidor. O setor precisa de um impulso para sair da bolha do jargão técnico e deixar de ser visto como aquele primo chato que fala de biopolímeros marinhos, bioprocessos aquáticos e resíduos de aquacultura de uma forma que ninguém entende.
O consumidor não quer saber se a alga foi cultivada em sistema de cultivo de fluxo contínuo; ele quer saber se é saudável, se é sustentável e se pode temperar a salada com ela sem sentir que está a comer algo saído de um aquário!
Pensem nisto: a bioeconomia azul tem tudo o que os consumidores de hoje supostamente querem – sustentabilidade, inovação, produtos naturais. Mas, ao contrário de setores como a tecnologia verde ou a alimentação saudável, parece que ainda não descobrimos como colocar o azul na moda.
O consumidor não quer saber se a alga foi criada em sistema de cultivo de fluxo contínuo; ele quer saber se é saudável, se é sustentável e se pode temperar a salada com ela sem sentir que está a comer algo saído de um aquário!
Por isso, o desafio aqui é duplo: não só precisamos de explicar o que são os produtos da bioeconomia azul, mas também precisamos de torná-los apetecíveis. E como fazemos isso? O consumidor quer histórias. E boas histórias, simples e, acima de tudo, aspiracionais.
E atenção, a comunicação não deve limitar-se apenas ao consumidor final. Para que a bioeconomia azul tenha um verdadeiro impacto, também precisamos de dialogar com governos, empresas e a academia. Precisamos de criar sinergias que permitam que as ideias inovadoras sejam traduzidas em ações concretas, em políticas que incentivem o uso de produtos marinhos sustentáveis, em investimentos que criem condições para que as empresas possam inovar sem medo de fracassar.
No Blue Wink-E 2024, vamos explorar precisamente estas questões: como falar sobre a bioeconomia azul de forma eficaz, que façam o consumidor escolher o azul e viver verde. Sabemos que não é fácil, mas o potencial está lá. Só temos de aprender a contá-lo da maneira certa.
Portanto, o desafio está lançado. Será que, tal como a tecnologia verde e a moda sustentável, a bioeconomia azul conseguirá tornar-se a nova tendência ecológica? Eu acredito que sim. Só precisamos de arrumar o nosso discurso e, com um toque de criatividade e ousadia, fazer com que o consumidor não veja as algas como “aquela coisa verde que vive no mar”, mas como “a próxima grande revolução no seu prato”. É altura de profissionalizar a comunicação e o marketing e transformar o azul na nova tendência sustentável.