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Algas como Ingrediente Funcional e Sustentável

Da inovação alimentar à sustentabilidade, as algas estão a ganhar protagonismo como ingrediente funcional capaz de criar valor económico, responder a novas tendências de consumo e contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

As algas são muito mais do que um ingrediente alimentar de nicho em Portugal; representam uma solução promissora e sustentável para o futuro da alimentação. Embora a sua presença na nossa culinária ainda seja modesta, o crescente interesse por produtos naturais e saudáveis, impulsionado pela globalização e pelas novas tendências, aponta para uma revolução alimentar em que as algas podem assumir um papel de destaque.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 821 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de desnutrição devido a dietas deficientes em proteínas, o que levou a um aumento significativo na procura por fontes alimentares ricas neste nutriente. As algas destacam-se como verdadeiros reservatórios de compostos bioativos, incluindo proteínas, que podem representar cerca de 30% da sua composição, chegando a atingir 55 a 60% em algumas cianobactérias.

As algas podem ser categorizadas em macroalgas e microalgas, cada uma oferecendo perfis bioquímicos e estratégias de cultivo distintos. As macroalgas, como Ulva lactuca (alface-do-mar), Porphyra spp. (nori), Undaria pinnatifida (wakame) e Himanthalia elongata (esparguete-do-mar), são tradicionalmente colhidas ou cultivadas em ambientes marinhos costeiros. As microalgas, incluindo Chlorella vulgaris e Arthrospira platensis (conhecida como spirulina), são normalmente cultivadas em sistemas controlados, o que permite uma produção mais constante e em grande escala.

Do ponto de vista nutricional, a Spirulina é um exemplo notável, com um teor proteico de até 64,7 g/100g de peso seco, conforme Peñalver et al. (2024). Outras macroalgas, como a Nori e a Wakame, também apresentam níveis significativos de proteína. É importante salientar que a sSpirulina também possui um teor notável de lípidos (5,13 g/100 g) ricos em ácidos gordos poliinsaturados (PUFAs), que reforçam os seus benefícios para a saúde.

De acordo com Bhatnagar et al. (2024), as algas oferecem vantagens distintas em relação às fontes tradicionais de proteína. Elas têm uma taxa de crescimento e um potencial fotossintético mais elevados, não competem por grandes áreas de terra arável, requerem menos água e têm capacidade de sequestro de carbono. Como não requerem solo fértil, água doce ou químicos e são altamente produtivas, as algas oferecem uma alternativa eficiente e sustentável às pressões sobre os recursos terrestres. Por exemplo, a terra necessária para a produção comercial de algas é inferior a 2,5 m²/kg de proteína, em comparação com 144 a 258 m²/kg para a carne bovina e 42 a 52 m²/kg para o frango. Estas características fazem delas uma opção promissora e sustentável para a indústria alimentar.

Assim, as algas são uma solução promissora para enfrentar os desafios globais ligados aos ODS , especialmente nas áreas de segurança alimentar (ODS 2), consumo e produção sustentáveis (ODS 12) e ação climática (ODS 13). Além disso, contribuem para a captura de carbono e a melhoria da qualidade da água, reforçando o seu potencial na transição para uma bioeconomia azul regenerativa.

As algas podem ser incorporadas numa vasta gama de produtos alimentares para melhorar a sua qualidade nutricional. Atualmente, têm sido testadas como ingrediente em pães, massas, biscoitos e produtos lácteos, como queijo e iogurte. A adição desta biomassa pode aumentar o teor de proteínas e minerais destes produtos (Bhatnagar et al., 2024). Além disso, extratos como o ágar-ágar, obtido de algas vermelhas (principalmente Gelidium sesquipedale), começam a ser utilizados como um agente gelificante natural, servindo como uma alternativa vegan superior à gelatina animal. De acordo com Bojorges et al. (2025), extratos de algas castanhas podem também atuar como emulsionantes, ajudando a misturar ingredientes em receitas.

No entanto, é importante reconhecer os desafios. Algumas algas apresentam uma parede celular rígida que dificulta a extração de proteínas. Além disso, o sabor e odor intensos, bem como alterações de cor, podem dificultar a aceitação pelos consumidores. No entanto, esses obstáculos podem ser superáveis. Acredito que otimizar as concentrações e explorar novos métodos de extração, como a extração assistida por micro-ondas ou ultrassom, são o caminho a seguir para obter extratos de alta qualidade que eliminem as desvantagens sensoriais.

Em suma, as algas têm o potencial de se afirmar como um pilar de uma nova era alimentar. Pela sua versatilidade, riqueza nutricional e capacidade de regenerar os ecossistemas, podem transformar profundamente a forma como produzimos e consumimos, abrindo caminho para um sistema alimentar mais sustentável, resiliente e em harmonia com o planeta.

Está nas nossas mãos transformar este potencial em ação, fazendo das algas um alicerce de um futuro alimentar verdadeiramente sustentável!

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